O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, afirmou que o governo tem mecanismos para controlar a expansão do cultivo de cana-de-açúcar no País, mas ressaltou que esse é um tema que não preocupa no momento. “No médio prazo, a demanda mundial por etanol não levará à conversão das lavouras (em cana), pois os preços dos produtos tradicionais são competitivos”, disse em palestra no Instituto Rio Branco, em Brasília.
“O Brasil tem potencial para produzir bioenergia e também alimentos. A conversão das lavouras não é tão simples”, completou. Ele foi questionado por diplomatas sobre uma possível “transformação” no cenário agrícola do País. A pergunta específica era se não havia risco de o Brasil deixar de ser um grande exportador mundial de alimentos e ter que importar grãos para garantir o abastecimento interno.
O temor expresso pelos diplomatas era que muitas áreas que hoje são destinadas ao cultivo de grãos pudessem ser ocupadas por canaviais como forma de atender à demanda mundial crescente por etanol. Em alguns municípios, principalmente do Centro-Oeste, a cana também assusta. Rio Verde (GO), por exemplo, limitou o plantio de cana e os vereadores de Dourados (MS) avaliam a possibilidade de estabelecer limites para os canaviais. Quem é contrário ao plantio lembra dos problemas ambientais causados pela queima da cana, a pequena geração de empregos, além da possibilidade de instabilidade econômica, já que muitos municípios cresceram sustentados pela produção de grãos.
Aos diplomatas, o ministro lembrou que boa parte dos recursos para instalação de novas usinas é fornecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição que é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Guedes Pinto sinalizou que, na hipótese de troca num ritmo acelerado, o governo pode limitar os financiamentos para a instalação de novas unidades para esmagamento e processamento da cana. Mas ele fez questão de ressaltar que a possibilidade de a cana ocupar as áreas cultivadas com grãos não preocupa. “Não vejo problema na competição”, comentou.
De acordo com dados apresentados pelo ministro, o plantio de cana-de-açúcar ocupa hoje 5,9 milhões de hectares. Esse volume garante a produção anual de 28 milhões de toneladas de açúcar. A produção de álcool oscila entre 16 e 17 bilhões de litros de álcool. Para dobrar a produção brasileira de álcool, calculou o ministro, seria necessário cultivar mais 2 milhões de hectares com cana. “Para o Brasil, isso é pouco”, explicou. Hoje, 47 milhões de hectares são plantados com culturas anuais (grãos) e 15 milhões de hectares com culturas permanentes (laranja e café). Seria preciso incorporar seis milhões de hectares para quadruplicar a produção brasileira de álcool”, completou.
Para ele, a alternativa é destinar áreas de pastagens para a cana. Números do Ministério mostram que 220 milhões de hectares são ocupados por pastagens. Essa área abriga rebanho de 200 milhões de cabeças. “É possível, via tecnologia, aumentar para dois por hectare o número de animais criados nessas áreas”, afirmou.
Da Agência Estado, de Brasília