Queda de casos novos em menores de 15 anos também indica a diminuição sustentável da transmissão ativa da doença. Número de serviços de referência aumentou 21% em dois anos
Levantamento do Ministério da Saúde aponta que os casos novos de hanseníase caíram 30% em cinco anos. O total de casos por 100 mil habitantes na população geral passou de 29,37 para 20,56 entre 2003 e 2008. Os dados preliminares de 2009 apontam que o coeficiente baixou para 16,72 – o indicador ainda precisa ser consolidado para comparação. Na transmissão entre menores de 15 anos, adotado pelo governo brasileiro como principal indicador de monitoramento da endemia para transmissão ativa da doença, o coeficiente baixou de 7,98 para 5,89, no mesmo período (em 2009, foi de 4,67, segundo dados preliminares). Neste domingo (31), celebra-se do Dia Mundial de Combate à Hanseníase.
“Temos intensificado as parcerias e as ações de comunicação e educação, no sentido de manter o diagnóstico dos casos existentes. É importante que todas as pessoas com manchas brancas ou vermelhas ou áreas dormentes no corpo procurem os serviços de saúde”, alerta a coordenadora geral do Programa, Maria Aparecida de Faria Grossi. Para a coordenadora a melhora nos indicadores de menores de 15 anos indica uma queda consistente. Isso acontece mesmo com uma expansão sistema de diagnóstico e tratamento, ou seja, com a ampliação de pessoas estão sendo avaliadas pela rede pública.
Em relação ao controle e prevenção da doença no Brasil, o levantamento do Ministério da Saúde mostra a expansão do número de unidades de saúde que fazem tratamento da doença. Entre 2007 e 2009, a quantidade de serviços aumentou em 21%, de 7.828 para 9.473, o que corresponde a um incremento de 1.645 unidades que atendem os pacientes de hanseníase em tratamento em três anos. Dessas, 75% estão concentradas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que registram os maiores coeficientes de detecção da doença.
INDICADORES – Na última sessão do Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 19 e 23 de janeiro, em Genebra, na Suíça, ficou acertada a realização de uma reunião com especialistas de todo mundo, a ser organizada pela OMS ainda no ano de 2010, para rever os critérios de controle da doença recomendados por essa Organização. Alguns dos temas centrais desta reunião serão a revisão da meta de eliminação e a utilização de indicadores que permitem monitorar o comportamento da endemia de uma forma muito mais sensível e precisa. Estes mesmo indicadores já constam de documento oficial da OMS e foram definidos a partir de uma reunião realizada em Nova Deli – Índia em 2009. Desde 2007, o Brasil utiliza e prioriza como indicador de acompanhamento da endemia o coeficiente de casos de hanseníase em menores de 15 anos.
CENÁRIO – Em números absolutos, o Brasil teve 51.900 casos novos da doença em 2003, 50.565 em 2004, 48.448 em 2005, 43.642 em 2006, 40.126 em 2007 e 39.047 em 2008. Dados preliminares de 2009 mostram que já foram notificados 32.022 casos novos, de acordo com dados do Sistema de Notificações de Doenças e Agravos (SINAN) do Ministério da Saúde. Os dados oficiais de 2009 serão finalizados até 31 de julho deste ano, considerando que se trata de uma doença crônica e requer um período maior de tempo para a conclusão do tratamento.
Quanto ao percentual de cura, em 2008 o resultado desse indicador foi de 81,2%, o que representou 33.611 pacientes de hanseníase curados.
SAÚDE PÚBLICA – A hanseníase ainda é um problema de saúde pública no mundo, onde foram notificados 249.007 casos novos, em 121 países, em 2008, dos quais 134.184 (54%) foram detectados na Índia, o país com maior número de casos novos, seguida do Brasil com 39.047 (15%) e da Indonésia com 17.441 (7%). A doença é infecciosa e atinge a pele e os nervos dos braços, mãos, pernas, pés, rosto, orelhas, olhos e nariz. O tempo entre o contágio e o aparecimento dos sintomas é longo e varia de 2 a 5 anos, podendo ser maior. A doença pode causar deformidades físicas, evitadas com o diagnóstico precoce e o tratamento imediato, disponíveis no SUS.
O novo levantamento foi divulgado pelo Ministério da Saúde em Brasília na Semana Mundial de Luta contra a Hanseníase, iniciada dia 25 e que se estende até 31 de janeiro.
CAMPANHA – Para potencializar as ações de controle e prevenção da hanseníase, o Ministério da Saúde relançou neste mês a Campanha Nacional contra a Hanseníase. O mote da campanha é “Como sei que estou com hanseníase” e o objetivo é estimular a população a procurar unidades de saúde que fazem o diagnóstico e tratamento da doença. Os estados e municípios receberam 7 milhões de folderes e 400 mil cartazes. Entre os dias 28 e 31 de janeiro serão veiculados spots de rádio e vídeos para televisão nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. A exceção será a Região Sul, que tem baixa detecção de hanseníase. Com esta ação, o ministério busca atingir a meta de eliminar a enfermidade e melhorar a qualidade dos cuidados às pessoas com hanseníase.
ATENÇÃO – Além de ampliar os locais onde o cidadão encontra atendimento, diagnóstico e tratamento da doença, a Coordenação Nacional do Programa Nacional de Controle da Hanseníase (CGPNCH) do Ministério da Saúde mostra que 8.178 (90,5%) unidades cadastradas pertencem à rede de atenção primária, especialmente a estratégia de Saúde da Família, o que indica a melhoria da organização dos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Para a atenção integral ao pacientes com hanseníase e com suas seqüelas, a CGPNCH tem trabalhado na construção da linha do cuidado em hanseníase, para a organização da rede de atenção em hanseníase primária, especializada ambulatorial e hospitalar.
“O fato de termos a maior parte dos tratamentos de hanseníase no nível de atenção primária do Sistema Único de Saúde mostra que a rede tem se organizado, facilitando o acesso do paciente aos serviços. Porém, há muito o que ser feito no sentido da qualificação da atenção. O objetivo é fazer a detecção precoce, fornecer tratamento oportuno e interromper a cadeia de transmissão da doença, com ênfase na vigilância dos comunicantes. Dessa forma, prevenimos as incapacidades, estimulando o autocuidado” afirma Grossi.
No Brasil, o objetivo da política de controle da hanseníase é diagnosticar, tratar e curar todos os casos. Quando confirma a doença em um indivíduo, o serviço de saúde local examina também os parentes e as pessoas com quem o portador tem ou teve contato para identificar outros casos existentes. Dessa forma, é possível reduzir as fontes de transmissão.
Para alcançar esse objetivo, o Ministério da Saúde investe na promoção da gestão pública e da política das ações de controle da hanseníase de forma descentralizada e participativa. As ações envolvem os estados, municípios e sociedade civil, contribuindo para a atenção integral e o cuidado à saúde das pessoas com hanseníase, inclusive as que ficam com sequelas.
Umas das estratégias de controle da hanseníase têm sido a definição e monitoramento de áreas com maior risco de detecção da doença, por meio da delimitação de clusters, que concentram municípios de acordo com o critério epidemiológico. Os 10 maiores clusters incluem 1.173 municípios com 17,5% da população do país e concentram 53,5% dos casos novos diagnosticados de 2005 a 2007. Esses municípios estão, predominantemente, nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os dados coletados e analisados permitem redirecionar a estratégia de atuação da PNCH. (veja tabela 2)
Indicadores/ Ano | Casos novos 0 - 14 anos | Coeficiente detecção 0 -14 anos por 100 mil habitantes | Casos novos geral | Coeficiente detecção geral por 100 mil habitantes |
2001 | 3.555 | 6,96 | 45.874 | 26,61 |
2002 | 3.862 | 7,47 | 49.438 | 28,33 |
2003 | 4.181 | 7,98 | 51.900 | 29,37 |
2004 | 4.075 | 7,68 | 50.565 | 28,24 |
2005 | 4.010 | 7,34 | 48.448 | 26,86 |
2006 | 3.444 | 6,22 | 43.642 | 23,37 |
2007 | 3.048 | 6,07 | 40.126 | 21,19 |
2008 | 2.913 | 5,89 | 39.047 | 20,56 |
2009 | 2.296 | 4,67 | 32.022 | 16,72 |
Fonte: Sinan/SVS-MS – 2009 dados preliminares |
Cluster (nº) | Estados de abrangência | Regiões |
1 | Maranhão/Piauí/Pará/Tocantins | Norte/Nordeste |
2 | Mato Grosso/Goiás/Tocantins | Norte/Centro Oeste |
3 | Rondônia/Mato Grosso | Norte/Centro Oeste |
4 | Bahia/Minas Gerais/Espírito Santo | Nordeste/Sudeste |
5 | Pernambuco | Nordeste |
6 | Piauí/Ceará/Paraíba/Pernambuco/Bahia | Nordeste |
7 | Amazonas/Pará/Amapá | Norte |
8 | Piauí/Bahia | Nordeste |
9 | Minas Gerais/Goiás | Sudeste/Centro Oeste |
10 | Rondônia/Acre/Amazonas | Norte |