Estudo preparado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alerta para um "exagero" no apetite por álcool, sugere limitação da produção de grandes excedentes voltados para a exportação e recomenda a concentração de esforços no aumento do consumo doméstico. |
Assinado pelo pesquisador Benedito Rosa do Espírito Santo, nome cotado para ocupar uma diretoria na Secretaria-Executiva do ministério, o estudo aponta impactos negativos da elevação da área plantada com cana na região de cerrados do país, tanto sobre os preços de terras e quanto sobre a produção de cereais e oleaginosas, além de aspectos sociais e ambientais de risco no movimento. |
"A oferta brasileira de etanol não é a salvação para o mundo e não representará mudança substancial na matriz de consumo do sistema de transporte do planeta". Segundo ele, a fatia do etanol brasileiro no mercado internacional de biocombustíveis chegará a 7% na safra 2013/14. "Definitivamente, não estamos falando de um Golfo Pérsico do etanol por aqui". |
No cenário traçado por Benedito Rosa, ex-secretário de Política Agrícola e ex-diretor do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na Argentina, está desenhado um crescimento de 10% ao ano na produção de álcool do país, dos atuais 17,7 bilhões de litros para 31,3 bilhões em 2013/14. Já o aumento do consumo seria de 1 bilhão de litros ao ano, o que resultaria em 22 bilhões de litros em 2013/14. |
"Sobrariam 9,4 bilhões de litros para exportar. Isso nos daria uma receita bastante razoável de US$ 4,3 bilhões". Segundo ele, a fatia dos biocombustíveis no Brasil tende a crescer dos atuais 11% para 32% até 2013/14. "O Brasil não precisa ansiosamente elevar as exportações. Mantê-las em 30% da produção, o que significaria dobrar a fatia, seria mais razoável". A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) projeta produção de 38 bilhões de litros e vendas externas de 16 bilhões de litros em 2012/13. |
"Isso daria 58% da produção. Vamos devagar, com prudência. Porque avançar tão rápido se temos mercado interno enorme e previsível?", questiona. Segundo ele, o nascente mercado externo ainda é "instável" e sofrerá "mudanças espetaculares" no médio prazo com o domínio da tecnologia de fabricação de etanol a partir de celulose. "Se houver uma crise no meio do caminho, vamos ter excedentes enormes e um modelo de alto grau de vulnerabilidade", acredita. |
Na questão tecnológica, Benedito Rosa também indica uma forte defasagem na pesquisa de alternativas ao etanol feito a partir da cana-de-açúcar e nas matérias-primas utilizadas na fabricação de biodiesel. "O Brasil está ficando para trás na inovação tecnológica no biodiesel e no etanol de celulose", afirma. |
"As políticas públicas precisam de ajustes". Para o economista, o pequeno produtor precisa receber matérias-primas de segunda geração para sustentar o programa de biodiesel. "Eles precisam de mais produtividade e mais rentabilidade para competir, e não apenas de isenções e incentivos fiscais", defende ele. |
Nas projeções de Benedito Rosa, a participação da área de cana, quando comparada às 18 principais culturas plantadas no país, crescerá dos atuais 12,7% para 17% em 2013/14. Em seus cálculos, a área para produção de etanol tende a subir de 6,6% para 10,2%. |
"Isso pode impactar a produção de uma área de 250 mil hectares no Triângulo Mineiro, sul do Maranhão, sudeste do Piauí, norte de Tocantins e nordeste do Pará", diz. De acordo com ele, Goiás poderá passar de 300 mil para 800 mil hectares de cana. "Hoje, a área de cana já corresponde a 160% da área de milho em Goiás". |
Em São Paulo, a diferença chega a 300%. "No interior paulista, o hectare de terra que custava R$ 4,7 mil em 2001 passou a valer R$ 10,2 mil", diz. Em Rio Verde (GO), a prefeitura local estuda restrições ao plantio de cana em substituição ao milho e a soja, cuja ração movimenta o complexo industrial da Perdigão e sustenta milhares de empregos e impostos na região. "Não se pode desestruturar esse tipo de atividade". Valor Econômico |