A visita do presidente norte-americano George W. Bush ao Brasil trará repercussões diretas ao Estado de Goiás. Bush veio tratar do aumento de investimentos nacionais e internacionais no setor de energias renováveis. A preocupação inicial dos EUA é a segurança nacional, na medida em que o país se encontra dependente de fontes estrangeiras de petróleo e também de gasolina e diesel. O presidente americano afirma ter destinado 84 milhões de dólares no orçamento de 2006 para pesquisas em tecnologias avançadas que permitam substituir 20% de seus combustíveis pelo etanol em até dez anos.
Lúcia Vânia
A notícia não poderia ser melhor para Goiás. Na segunda-feira, estive com o governador Alcides Rodrigues na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, para acompanhar a assinatura de memorando de entendimento entre o Banco do Japão para Cooperação Internacional e a Petrobras. O objetivo é atrair investimentos em projetos de biocombustíveis, através de parcerias entre a estatal brasileira e empresas japonesas. Pelo acordo, estão garantidos recursos em torno de US$ 600 milhões para execução, ainda em 2008, das obras de construção do alcoolduto que ligará os terminais da Petrobras no município goiano de Senador Canedo a Paulínea, em São Paulo. A venda do produto poderá render ao País cerca de R$ 2,5 bilhões anualmente. O secretário de Fazenda de Goiás, Oton Nascimento, espera que, da totalidade exportada, 60% saiam das usinas goianas, uma vez que grande parte do alcoolduto passará pelo Estado.
Goiás está pronto para expandir a produção de etanol. O alcoolduto criará novos investimentos para o Estado, somando-se aos 19 projetos de etanol hoje existentes, entre os quais a Unidade São João, em Quirinópolis, onde aproximadamente US$ 140 milhões foram investidos. A Unidade Boa Vista, do Grupo São Martinho, está em construção também em Quirinópolis, e terá a capacidade de processar até 7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano.
O Brasil desponta como principal e mais moderno produtor de álcool combustível de baixo custo do mundo. Por isso, os Estados da Região Centro-Oeste, muito embora tenham sido menosprezados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) lançado pelo governo federal, agora se entusiasmam com essa euforia de investimentos.
A partir da visita do presidente Bush, o Brasil tem oportunidade de reabrir o diálogo com os Estados Unidos, especialmente no que diz respeito à redução nas barreiras das taxas impostas por aquele país ao álcool brasileiro. Por outro lado, com a crescente preocupação em relação ao meio ambiente, o Brasil deverá renovar suas tecnologias e seu conhecimento agrícola para adequar-se à demanda internacional de respeito ambiental. Segundo a Embrapa, a área plantada com cana-de-açúcar - que hoje compreende cerca de 6,5 milhões de hectares - pode aumentar 20 vezes sem degradar o meio ambiente em até 10 anos e sem prejudicar as terras produtivas. Em um prazo menor, de cinco anos, estima-se que já seria possível dobrar a produção, saltando de 17 bilhões para 40 bilhões de litros por ano.
Para evitar o fantasma da monocultura em Goiás, é preciso que os municípios produtores de etanol sigam o exemplo de Rio Verde, que já se adiantou e editou, em novembro de 2006, uma lei que limita a plantação da cana-de-açúcar a 10% da área agricultável da região. Quirinópolis, Santa Helena e Mineiros, também já estudam medidas para prevenir a monocultura.
Somente neste ano, 60 milhões dos 800 milhões de litros de etanol fabricados em Goiás foram vendidos para outros países. A utilização do etanol como combustível alternativo surgiu como um sopro renovador para o Brasil. Hoje, cerca de 40 países de todas as regiões, exceto no Oriente Médio, adotam ou estão em fase de adotar a mistura de etanol à gasolina.
O Brasil é o país com maior representação de combustível alternativo na matriz energética, com cerca de 4,2 milhões de carros movidos a biocombustível de um total de 21 milhões de veículos. É uma verdadeira febre pelo nosso potencial energético verde, que está canalizando os interesses de empresas estrangeiras. O Brasil já sabe o que fazer: investir, produzir, garantir logística e distribuição para os investidores. O caminho está aberto. Seguir por ele é uma questão de oportunidade e maturidade. Espero, assim, que o Estado de Goiás, bem como toda a Região Centro-Oeste, recebam a atenção que merecem do governo federal, uma vez que representarão seu maior parceiro nesta empreitada.
Lúcia Vânia é senadora (PSDB) e jornalista - O Popular